Em 1997, León Ferrari apresenta a exposição Tormentos-amores na Galeria Arcimboldo, de Buenos Aires, onde realiza uma série de trabalhos em que inscreve textos em braile sobre reproduções de imagens. As imagens: geralmente nus feitos por Man Ray, Augusto César Ferrari ou Fernando Scianna. Os escritos: ou poemas de Borges e André Breton ou trechos bíblicos. De início, interessa dizer que o procedimento de León, em linhas gerais, consiste em aproximar de tal maneira o discurso do texto com o discurso da imagem a ponto de criar relações ou tensões entre seus dizeres, embates simbólicos – às vezes o artista duplica o profano, com os nus de Ray e os poemas de Breton, e às vezes arremessa mesmo o profano contra o sagrado. De qualquer modo, isto só é possível a partir de uma forma precisa de relação que se estabelece entre leitor e obra: uma relação de toque. O contato é o ponto de força destas montagens – ponto de partida de onde tudo se inicia. Como escreve Andréa Giunta, existia inclusive um cartaz com a indicação irônica: “Não é proibido tocar as obras”.
Fonte: Victor da Rosa In Zunái, http://www.revistazunai.com/ensaios/victor_da_rosa_leon_ferrari.htm.