
Umas pessoas emparedadas (#IOPRio2016) | Rio de Janeiro | Jaime Scatena
Há essas pessoas penduradas, ou serão pessoas talvez emparedadas, o que se sabe é que elas estão paradas ou quase paradas, caso se movam não se percebe. São pessoas talvez atravessadas de luz ou ainda fixadas com cola numa parede de concreto, estarão elas bem untadas de cola para que não descolem da parede e venham dar ao chão? São pessoas misturadas, ou digamos que estejam provisoriamente ajuntadas, que depois de um certo tempo hão de separar-se, serão então pessoas separadas mas que antes eram juntas ou juntadas por alguém, mas quem?
Há pessoas ordenadas segundo uma ordem desconhecida, talvez mesmo aleatória, estão fadadas a conviver com os vizinhos da esquerda, da direita, de cima, de baixo, são pessoas condenadas a estarem ali, tão vulneráveis ao olhar de quem ali possa passar. Há pessoas apenas pousadas, é fácil ver com que delicadeza pousam e voltam a pousar, estando o pouso porém delimitado por um espaço retangular ou quadrado ou losangular. É possível até que algumas estejam desassociadas e transitem por uma área indelimitada, uma área, digamos, desamarrada, destacada dos limites.
Há, certamente, aquelas que estão dependuradas, mas estas são algo macabras, quem pode saber o que pensou o pintor ao pintá-las, quem sabe não pensou nada, apenas pintou e lançou-as, pintou e desalojou-as de onde primariamente estavam. Há pessoas que foram fotografadas e agora aparecem chapadas sobre um fundo de bolinhas pretas, como é que foram ali parar, quem é que conseguiu capturá-las, como foi possível que arrancadas do mundo que se move fossem parar ali tão imobilizadas, como um signo riscado há dez mil anos na rocha permanece intacto, elas, as pessoas, ali tão cordatas, tão pacificadas. Apesar disso estão ilhadas, pois cada uma delas, apesar de parecer mancomunada com todas as outras , conserva intocada sua marca individual.
É o mais estranho isso de estarem avizinhadas com as outras estando ao mesmo tempo isoladas, perdidas em si mesmas, enfurnadas em sua própria e desmesurada alegria serem quem são e não um outro. As pessoas estão porém intimamente ligadas, são pessoas navegáveis, mas não foram planejadas, são o fruto espantoso de um acaso vibrante que as fez estarem todas ali, emparedadas, essas pessoas.
texto | Curitiba | ygor raduy