Querido Jaime,
Preciso dizer que sou sua fã, no mais alto grau de respeito e admiração. Acompanho com muito afeto tua trajetória e tenho me orgulhado cada dia mais do seu processo artístico e de vida. Me emociona ver como você se descobre, tem coragem, arrisca e cria com sabedoria.
Sabe, eu acho que a felicidade de um professora, curadora ou mestre é se sentir ampliado, até mesmo ultrapassado, por quem com compartilha saberes. Você é o maior exemplo disso na minha vida inteira. Te conheci em um momento de mudança, de fotógrafo você se tornava artista visual (com consciência plena disso).
Agora você cria em muitas linguagens com maestria – gif, performance, vídeo, música. Você cria projetos de arte lindos, como no Not Really There e todos os outros que o Multigraphias (você e eu) nos metemos a sonhar. Além disso se tornou um excelente educador.
O Multi (jeito carinhoso que você e eu chamamos o projeto) se tornou uma plataforma de arte educação, de criação colaborativa, de residência artística e formulação de projetos. Isso é lindo, é grande, é gigantesco. E só é assim porque um dia eu cruzei com você, e antes cruzei com Ygor Raduy, antes ainda com Isis Fernandes, com Luciana Franzolin (três amantes da fotografia e da poesia).
De lá pra cá recebemos mais de 70 pessoas, construímos um acervo de mais de 5 mil trabalhos em diferentes suportes e gêneros: desenhos, fotografias, gifs, vídeos, paisagens sonoras, colagens, pintura, fotoperformance etc.
Mais do que a quantidade de trabalhos o que preocupa o Multigraphias desde sua fundação é a possibilidade de conjugar saberes. Por isso o projeto selecionou artistas residentes. Recebemos estudantes de artes do Norte do Brasil, pintores franceses, mestres em Antropologia Visual mexicanos, auto-didatas de várias partes do país, músicos, poetas contemporâneas entre muitos outros.
Nossa proposta de criar interlocuções potentes em que a troca e o encontro seja diário e horizontal me fez crescer muito. Me mostrou muitas possibilidades.
Talvez a maior delas seja receber meu papel nisso tudo. Descobri que eu amo pensar com os artistas, provocá-los, acolhê-los, abraçá-los. Inventamos uma espécie de curadoria em que o artista é acolhido com amor. Criamos nosso jeito de criar. Certamente não é o melhor, mas foi o melhor que conseguimos fazer.
Amo sinceramente cada uma das pessoas que se envolveu neste processo. Amo e agradeço. Mas é sempre importante saber a hora de partir. O Multi seguirá sob teu comando Jaime Scatena. Ele é todo seu. Como meu céu é teu, e nosso. Me coloco a disposição como curadora consultiva, estarei sempre disponível para você e para o Multi. Mas daqui pra frente serei uma curadora colaboradora (que estará de amores e saberes abertos ao projeto e seus desejos).
Enquanto isso eu estudarei para ser uma curadora mais consciente de mim mesma e dos outros. Cuidarei disso como quem cuida de uma linda planta. Serei alimentada por gente que também ama a arte, os artistas. Espero ficar mais forte, humilde e luminosa para ajudar artistas que cruzarão meu caminho. Afinal, Lucia Santaella, tem razão: os artistas são as antenas da civilização. Eles são capazes de acessar a sensibilidade e é ela uma das maneiras mais bonitas de mudar o mundo (para o bem, o potente, o demasiado humano, o generoso).
Com muito amor me despeço como diretora, coordenadora do Multigraphias. E com um amor maior ainda dou boas-vindas ao novo diretor.
Gratidão!
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