
Já experimentou olhar nos olhos das pessoas que têm casas a céu aberto?
Enxergou as mãos, os pés e os olhos daqueles que carregam num saco, caixa ou carrinho todos seus pertences?
Existe algo neles que me desconcerta. E quando eu escrevo “eles” percebo a minha atrocidade em desumanizá-los. Em torná-los todos o mesmo.
Mas são muitos. E são individuais. E apesar de eu conseguir vê-los como um coletivo, sei que é uma coletividade heterogênea.
Eles nos mostram o rosto do Outro. Daquele fora do mínimo aceitável em uma sociedade. Mas estão dentro dela. São como pierrots que riem do cotidiano das cidades.
Têm outras territorialidades. São donos das ruas.
Têm outras políticas – diretas.
Parecem um ruído, não é?
Mas são a incoerência das cidades revelada na sua última potência.
Pierrot pós-modernos | Gabriela Canale | Vitória
The irony.