Eu quero te dizer
que eu vou desinventá-la
Onde houver cimento que eu leve a terra
Onde houver cercamento que eu leve um córrego
Onde houver engarrafamento que eu leve uma bicicleta
onde houver buzina que eu leve a música
Moraremos juntos
porque somos assim
juntos
mas distantes o suficiente para respirarmos
Árvores
organismos
água sobre o cinismo
Silêncios de libélulas
e um processo ultraeficiente de distribuição de tudo que se produz por perto
quase tão sábios quanto um bando de saguis, seremos
teremos céu, árvores
a comida será remédio plantado no jardim
E quando a coisa apertar
os hospitais terão vista pro mato
terão cafuné
e o sol penetrando as arestas da alopatia
Comecei isso tudo querendo existir na cidade
termino, querendo ser outra coisa
ser um outro eu
um ser que pode comungar com o espaço
quero ser um organismo entre outros organismos
quero me irmanar das paineiras
quero respeitar minha sabedoria vegetal
quero ser alfabetizada em Manoel de Barros
e respeito
A minha cidade é minha desinvenção