Não tem nome. Tem um par de olhos.
Tem, mas não possui. Convive, compartilha.
Usa-os como que por reflexo: treinados para o acaso, eles se confessam.
O homem colorido carrega dois globos de água – lentes ligeiras contra a minha 1/8. Se protege em uma timidez calculada contra instrusos equipados na hora de almoço.
Intrometidas, minhas lentes.
Dissimulamos desconfortos.
Ele me pede pra fazer uma reportagem, respondo que não, sou artista, e naquele minuto não sou jornalista. Mesmo que haja como tal, olho diferente, explico a mim mesma.
Confisco as cores porque desta imagem eu quero sequestrar o ócio forte, contrastante, dos homens do trabalho.
Por detrás, um rombo. Um segredo. Uma passagem. A rua é o risco, o buraco não. Dentro dele, edifica silenciosa uma Berlim PB pronta para se exibir aos quatro homens e uma Londrina colorida e barata.
Eles, inocentemente, as sabem. Guardam-nas para si em rebeldia festiva, só confessada em sussuro depois de girar o giz azul na ponta do taco e engolir um gole de cerveja.
Nessa toca que é a cidade, os interiores podem ser nebulosos ou absurdamente nítidos!
artistas em diálogo: Gabriela Canale (São Paulo), Ísis Fernandes (Berlim), Ygor Raduy (Londrina)